Natureza viva

Natureza Viva é uma série que parte do gênero da natureza-morta, deslocando-o para o campo da experiência sensorial. As composições são formadas por esculturas em cerâmica branca que remetem a frutas, recipientes e elementos orgânicos. Em algumas obras, esses volumes dialogam com pinturas que representam as mesmas formas, criando um jogo entre imagem e objeto, entre representação e presença. Outras dispensam a pintura e se concentram na relação direta entre matéria, forma e espaço.
O olfato é o eixo central de toda a série. Cada obra é impregnada por um aroma específico, liberado de forma sutil no ambiente, mas que estrutura a experiência. A única peça que não exala perfume é sempre feita de latão: ela é, paradoxalmente, a que nomeia o cheiro.
O dourado do latão não brilha para ornamentar, mas para marcar. Ele indica o centro ausente: o cheiro. Sua presença metálica, fria e densa, contrasta com a leveza volátil do aroma, funcionando como ponto de ancoragem sensorial. A peça em latão ancora o aroma no tempo e no espaço, fixa o que é fluido. É ela quem traduz, silenciosamente, o que paira no ar, tornando o invisível legível.
Assim, em Natureza Viva, o gesto de cheirar é inseparável do gesto de olhar. As obras pedem atenção prolongada, uma escuta sensorial do que não se mostra de imediato. O que parecia natureza-morta torna-se, aqui, um campo vivo de relação entre cheiro, forma e memória.

