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Afinidades afetivas | Alexander Dejonghe

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Texto para o catálogo da exposição Eu prefiro ser filho da outra, Divisão de Artes Plásticas da UEL, Londrina, 2018

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O trabalho de Karola Braga se enquadra em um jogo de presença e ausência, nas quais ela ora se coloca ativamente como ser desejante, pessoal, afetada e em busca de afeto, ora como ativadora velada de desejo e presença - que em seu léxico podem ser considerados sinônimos. por meio da pessoalidade, seja ela física ou simbólica, a artista presenteia seus trabalhos como objetos ou ações que tentam capturar o tempo, enquanto reconhece sua impermanência e finitude, como no trabalho Tentaremos não nos esquecer em que uma mão invisível datilografa uma contagem regressiva dos dias que restam com sua parceira antes de uma despedida inevitável. Despedida que se estende por 50 dias sendo escrito e desaparecendo na frente do espectador, que vislumbra um conflito com o futuro que é presente porque sonhado e com o presente que é passado por ser memória. em Pequenos rastros e singelas ações preliminares a artista busca manter o contato com o outro, distante, por meio do seu perfume que como uma mão tateia e acaricia a memória olfativa daqueles que assim a conhecem. Na falta do seu corpo físico, a artista deixa para trás um corpo olfativo. uma impermanência presente. uma presença ausente. uma ausência serenizada. Na performance Eu estava te olhando para ver se você me olhava de volta, 20 atores disfarçados como pessoas quaisquer em uma abertura de exposição, se transformam em espectadores de retorno, buscando um olhar que olha de volta, um olhar que se percebe sendo visto. um olhar que silenciosamente indaga ‘estou aqui. e você?’.

 

 

 

 

Eu estava te olhando para ver se você me olhava de volta, para saber se o que vive no
meu olhar vibra no seu. para tornar a existir a partir do seu olhar que me vê. te ver existindo
me vendo existindo. te enlaçar nesse espaço/vazio que nos separa/une e ver seu olhar dar
o nó. nós estamos aqui.

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Tentaremos não nos esquecer
uma promessa de que resta tempo
um resto de tempo suspenso
71 tentativas de me manter presente
71 tentativas de te manter presente
71 dias de presente
71 dias presente.

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Pequenos rastros e singelas ações preliminares
deixo meu cheiro com você
isso sou eu.
cheire-me, carregue-me, vista-me
te envolvo, te beijo, te visto
me leve com você
sou uma impermanência presente
uma presença ausente
uma ausência serenizada

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Alexander Dejonghe - artista e escritor. 

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